Como os dias frios e cinzas podem afetar o humor?
Publicado em 10 de agosto de 2021.
Quem nunca acordou em um dia frio e nublado com o desejo de ficar um pouquinho mais na cama? Ou mesmo não se sentiu mais letárgico e “preguiçoso” em dias em que o Sol não apareceu? Que os dias cinza afetam o nosso humor é um consenso unânime, mas você sabe quais alterações biológicas são observadas nestes dias e provocam tais mudanças de humor?
Como a luz e a escuridão alteram nosso organismo?
Ao longo da evolução humana, a exposição à luz natural levou-nos a desenvolver um ritmo sincronizado com o ambiente externo, conhecido como ciclo circadiano. Dois hormônios são os principais responsáveis pela regulação das funções do nosso organismo e do comportamento de acordo com o período do dia: a melatonina e o cortisol.
No período da manhã, quando o dia está se iniciando, a exposição gradual à luz natural estimula as células ganglionares presentes nos olhos, que são células particularmente sensíveis ao comprimento de onda azul - característica da luz diurna. Esse estímulo irá ativar uma região cerebral conhecida como hipotálamo, o que por fim acarretará na liberação de cortisol. O cortisol, por sua vez, é responsável pelo nosso estado de “alerta” e seu pico de concentração na circulação sanguínea ocorre pela manhã, entre as 10 e 12 horas. Após esse horário, o decaimento gradual desse hormônio se inicia e, após as 18 horas, seus níveis encontram-se baixos. A redução dos níveis desse hormônio, então, prepara o corpo para o momento de descanso.
De maneira contrária, o estímulo luminoso inibe a liberação de um segundo hormônio, a melatonina. Desta forma, a ausência de exposição à luz durante o período noturno é um estímulo para que o núcleo supraquiasmático no hipotálamo estimule a síntese e liberação de melatonina pela glândula pineal. O efeito primário da melatonina é a indução do sono, mas, além disso, ela também exerce diversos efeitos importantes para a homeostase do organismo humano, incluindo efeitos anti-inflamatório e antioxidante.
Este balanço entre os níveis endógenos de melatonina e cortisol é essencial para a manutenção de ritmo circadiano adequado, que contribui para um sono de qualidade e um humor equilibrado. Desta forma, tanto a exposição à luz do dia quanto evitar a exposição à luz durante a noite são extremamente importantes para a regulação da função endócrina e do ritmo circadiano. Por outro lado, a baixa exposição à luz solar durante o dia e/ou a exposição prolongada à luz durante a noite levam ao desbalanço no ritmo circadiano e, consequentemente, na desregulação do sono e de outros processos biológicos. 1
Perfil de liberação dos hormônios melatonina e cortisol em resposta a estímulos luminosos. Adaptado de: Manganaro et al, 2017.
Mas o que acontece quando nos expomos pouco à luz do dia?
Durante o inverno em algumas regiões do mundo – especialmente nos países nórdicos europeus – a incidência de luz é muito baixa. Aqui no Brasil, a região sul também recebe pouca incidência de luz solar em algumas regiões, especialmente no inverno, quando os dias nublados são mais frequentes.
Durante dias ensolarados a luminosidade pode variar de 20.000 a 100.000 lux - unidade de medida de luminosidade. Esse valor cai para cerca de 3.000 lux em dias nublados. Logo, quando as nuvens tomam conta do céu, nossas células da retina são pouco estimuladas e, como consequência, a liberação de cortisol e melatonina fica desrregulada. Os níveis de cortisol baixam – o que diminui a ativação do nosso estado de alerta – enquanto que a síntese e liberação de melatonina não cessam completamente, o que é responsável pela nossa sonolência. 2
Outro aspecto importante que também impacta no humor nos dias nublados é a redução do neurotransmissor serotonina, responsável pela sensação de bem-estar e pelo estado de alerta. Esse neurotransmissor serve como precursor para a síntese de melatonina e, uma vez que está sendo utilizado como substrato para produzir melatonina, apresenta seus níveis reduzidos, o que pode refletir em um humor deprimido.
A exposição à luz inibe a liberação de melatonina e estimula a liberação de cortisol e serotonina, enquanto nos dias nublados ocorre o oposto. Adaptado de: Knoop, et al. 2020 e Münch et al, 2020.
Apesar da indiscutível importância da luz elétrica na nossa vida cotidiana, ela não é capaz de substituir a luz solar. Como mencionado, as células da retina humana são seletivamente sensíveis ao comprimento de luz azul e sua ativação também depende da intensidade luminosa. A luz de LED emite poucos raios luminosos nesse espectro além de sua intensidade ser muito menor do que a da luz diurna. 2
Intensidade da luz emitida pela lâmpada LED e pela luz natural. É possível notar que ao comprimento de onda azul (percebido pelas células da retina humana e responsável por sincronizar nosso ciclo circadiano com o ambiente) apresenta uma intensidade muito menor na luz de LED em comparação à luz solar. Adaptado de: www.led-professional.com
Depressão sazonal
Em locais onde os invernos são mais longos e com períodos escuros prolongados, algumas pessoas podem apresentar a depressão sazonal. Essa condição é caracterizada por sintomas depressivos, comportamento antissocial, desânimo e fadiga extrema, que ocorrem em um período específico do ano e são recorrentes por 2 anos consecutivos. A susceptibilidade ao quadro depressivo durante períodos de pouca incidência de luz também depende de fatores genéticos e hábitos de vida, sendo mais comum em mulheres jovens.
O desenvolvimento da depressão sazonal está relacionado principalmente à redução dos níveis de serotonina no organismo. Porém, a baixa exposição à luminosidade também pode afetar os neurotransmissores noradrenalina e glutamato. Outro fator importante a ser considerado são as perturbações no ritmo circadiano que, por consequência, levam a alterações no padrão de sono, fazendo que com que o sono não seja tão reparador quanto deveria. Isto contribui para a sensação de fadiga, cansaço e piora do humor.
Além de afetar a síntese de substâncias importantes para o funcionamento do cérebro, o estímulo luminoso é essencial para a síntese de vitamina D pela pele. A deficiência desta vitamina, por sua vez, tem sido associada com aumento da susceptibilidade ao desenvolvimento de depressão.
Apesar de ser mais comum no inverno, a depressão sazonal também pode ocorrer devido ao excesso de calor no verão. Porém, nesse caso, o padrão de sintomas se apresenta de maneira distinta, consistindo em insônia, agitação e irritabilidade. 3,4
Como podemos driblar os efeitos dos dias nublados sobre o nosso humor?
Algumas estratégias podem amenizar os impactos gerados pelos dias nublados ao nosso organismo. Entre as mais bem estudas estão: 3,5
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A prática de exercício físico auxilia na liberação de neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar;
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Terapia de luz artificial que mimetize a luz diurna;
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Uso de melatonina para a regularização do sono;
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Suplementação de 5-hidroxitriptofano (5-HTP), um precursor da serotonina;
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Suplementação de Vitamina D.
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As informações fornecidas neste blog destinam-se ao conhecimento geral e não devem ser um substituto para a orientação de um profissional médico ou tratamento de condições médicas específicas. As informações aqui apresentadas não têm o objetivo de diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer doença.
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