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Consumir carne vermelha faz mal à saúde?

Publicado em 11 de maio de 2021.

Ao longo das últimas décadas, a relação entre hábitos alimentares e a manutenção da saúde vem sendo extensivamente estudada. Manter uma alimentação equilibrada e diversificada tem se mostrado essencial para o pleno funcionamento do organismo, pois fornece os nutrientes necessários para os mais diversos processos celulares e metabólicos, incluindo carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas e minerais. Desta forma, incluir os alimentos certos em nossa dieta – e em proporções adequadas – contribui para o bem-estar geral e para a prevenção de inúmeras doenças, refletindo em uma melhora da qualidade de vida e promovendo um envelhecimento saudável.

Enquanto o consumo de alimentos naturais ou minimamente processados (como frutas, legumes, verduras, cereais integrais, ovos, leite e alguns tipos de carne) tem sido associado a diversos efeitos benéficos à saúde, outros estudos também relacionam o consumo frequente de alimentos processados ao aumento do risco de desenvolvimento de diferentes doenças. Além disso, evidências também apontam a maior incidência de alguns tipos de câncer (principalmente de intestino) e de doenças cardiovasculares em indivíduos que consomem carnes vermelhas em maior quantidade.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são consideradas carnes vermelhas aquelas ricas em mioglobina e provenientes dos tecidos musculares de mamíferos (incluindo bois, carneiros e porcos), bem como os embutidos preparados com essas carnes. Quando consumidas com moderação, as carnes vermelhas são excelentes fontes de proteínas, além de conter todos os aminoácidos essenciais – aqueles que não são produzidos endogenamente, mas são necessários para a síntese de proteínas importantes para o crescimento e funcionamento do organismo. As carnes vermelhas também são ricas em ferro heme (grupo prostético que consiste de um átomo de ferro contido no centro de um anel orgânico heterocíclico chamado de protoporfirina IX), que é mais biodisponível e melhor absorvido pelo organismo humano. Ainda, contém grande quantidade de nutrientes que promovem a melhora do desempenho muscular (como a mioglobina e a creatina) e de zinco, mineral importante para o desenvolvimento e funcionamento adequado do sistema imune.

Apesar destes benefícios, as carnes vermelhas possuem uma quantidade considerável de gorduras saturadas, o que pode favorecer o aumento dos níveis séricos de colesterol no organismo e o desenvolvimento de dislipidemias e aterosclerose (deposição de placas de gordura e inflamação crônica na túnica íntima de artérias de médio e grande calibre). Além disso, uma amina quaternária encontrada na carne vermelha – a carnitina – é metabolizada pelas bactérias da microbiota intestinal durante o processo de digestão deste alimento, originando o óxido de trimetilamina (TMAO). O TMAO, por sua vez, tem sido associado ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, sendo este efeito atribuído a diferentes mecanismos. Dentre estes, a inibição do transporte reverso de colesterol até o fígado, o aumento da reatividade plaquetária e potencial de formação de trombos, bem como a ativação de células endoteliais e células espumosas – macrófagos ricos em gorduras oxidadas e que se depositam no endotélio vascular, gerando inflamação.

Assim, levando em consideração os efeitos prejudiciais que o acúmulo de TMAO pode exercer sobre o sistema cardiovascular, inúmeros trabalhos investigam a relação entre o consumo de carnes vermelhas e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Recentemente, foram divulgados os resultados de um estudo que acompanhou durante três décadas o impacto do consumo alimentar de carnes vermelhas sobre a saúde cardiovascular de cerca de 30 mil indivíduos. Foi observado que o consumo semanal de duas ou mais porções de carne vermelha, processada ou de frango (mas não carne de peixe) estava associado a um aumento de 3 a 7% na incidência de doenças cardiovasculares – incluindo doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca. Além disso, o consumo de carne vermelha não processada duas ou mais vezes por semana também foi associada ao maior risco de mortalidade (3%) por todas as causas. O estudo completo pode ser acessado através deste link.

Estes resultados fazem parte de um grupo de estudos populacionais e epidemiológicos subsidiados pela Associação Americana de Cardiologia e pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH), realizados desde 1948 com o intuito de identificar os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. Agora, além de tabagismo, sedentarismo, obesidade, diabetes e hipertensão arterial, o consumo excessivo de carne vermelha também tem sido relacionado a efeitos deletérios sobre a saúde cardiovascular, sendo que mais estudos são necessários para avaliar o papel da disbiose intestinal (desequilíbrio da microbiota intestinal) na produção de TMAO a partir destes alimentos.


O consumo excessivo de carnes vermelhas tem sido associado ao aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, em decorrência dos efeitos deletérios do óxido de trimetilamina (TMAO) no organismo. 

 

É importante ressaltar que resultados como os obtidos no estudo citado anteriormente não “proíbem” ou apontam a necessidade de excluir completamente as carnes vermelhas da rotina alimentar, mas recomendam que estas sejam consumidas com moderação a fim de prevenir impactos negativos sobre a saúde. Adicionalmente, reforçam a necessidade de atenção quanto à escolha e forma de preparo destes alimentos, ou seja, sempre que possível evitar carnes com alto teor de gorduras, bem como frituras e empanados. Adicionalmente, carnes brancas magras, ovos, peixes e alimentos ricos em proteína vegetal (como as castanhas e alguns tipos de grãos) podem ser consumidos em substituição às carnes vermelhas, visto que são ricos em proteínas e gorduras insaturadas, consideradas mais saudáveis.

Além disso, cada vez mais questões sobre o bem-estar animal, sustentabilidade e impacto ambiental também tem influenciado as escolhas alimentares de uma parcela significativa da população, que opta pela adesão a dietas vegetarianas ou baseadas exclusivamente em alimentos de origem vegetal (veganas). Para atender a esta demanda, existem no mercado produtos à base de planta que possuem textura, cor e cheiro muito semelhantes aos de carnes vermelhas. Entretanto, embora sejam apontados como alternativas interessantes àqueles que buscam diminuir ou eliminar o consumo de proteínas de fontes animais da dieta, muitos destes alimentos são processados (ou industrializados) e possuem um teor elevado de gorduras saturadas, sódio, aditivos alimentares e conservantes. Desta forma, é importante sempre observar as informações nutricionais destes produtos antes de introduzi-los em sua alimentação.

Assim, ponderar nossas escolhas alimentares de maneira consciente e embasada tanto nas necessidades nutricionais do nosso organismo quanto na composição dos alimentos é um ponto-chave na busca por hábitos de vida mais saudáveis, contribuindo para a prevenção de inúmeras doenças e promovendo a longevidade.

 


As informações fornecidas neste blog destinam-se ao conhecimento geral e não devem ser um substituto para a orientação de um profissional médico ou tratamento de condições médicas específicas. As informações aqui apresentadas não têm o objetivo de diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer doença.

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