Publicado em 20 maio de 2024.

Mediante estímulo do hormônio tireoestimulante (TSH) liberado pela hipófise, os hormônios T3 (tri-iodotironina) e T4 (tiroxina) são secretados pela glândula tireoide e regulam diversas funções biológicas. Os hormônios tireoidianos estão envolvidos, por exemplo, no controle da taxa metabólica, do gasto energético e do consumo de oxigênio pelas células, dos batimentos cardíacos, dos movimentos intestinais, do tônus muscular, da regulação dos ciclos menstruais, do humor e da atividade cerebral.

Dessa forma, disfunções da tireoide que resultam na diminuição ou excesso da produção e liberação de hormônios tireoidianos – quadros clínicos conhecidos como hipotireoidismo ou hipertireoidismo, respectivamente – afetam diretamente a saúde e podem contribuir para a manifestação de diversos sinais e sintomas. Dentre essas alterações, as mudanças no peso corporal estão entre as mais conhecidas e relatadas pelos pacientes. Mas será que existe uma relação direta entre a desregulação dos níveis de hormônios tireoidianos e o peso corporal?

Hipotireoidismo e o ganho de peso corporal

Já foi demonstrado que o hipotireoidismo pode favorecer o aumento do peso corporal ou dificultar o processo de emagrecimento, visto que a produção insuficiente de hormônios tireoidianos acarreta em uma desaceleração do metabolismo. Além disso, o hipotireoidismo pode provocar retenção de líquidos e inchaço, o que também contribui para o ganho de peso.^1-4

Entretanto, embora o ganho de peso seja uma manifestação clínica comum do hipotireoidismo, a diminuição dos níveis dos hormônios tireoidianos não pode ser considerado o único fator responsável. O aumento do peso corporal pode variar significativamente de pessoa para pessoa, e depende da gravidade do caso. Nem todos os pacientes apresentam essa queixa e, quando ocorre ganho de peso, apenas 2,5 a 5 quilos podem ser atribuídos ao hipotireoidismo. Outros fatores – como a genética, os hábitos de vida e diversas condições de saúde física e psicológica (incluindo o estresse) – também têm um impacto significativo sobre esse parâmetro. ^1-4

Ainda, o tratamento farmacológico adequado (através da reposição de hormônios tireoidianos) reverte os efeitos metabólicos do hipotireoidismo que contribuem para o ganho de peso.  Além disso, alguns suplementos (como iodo, selênio e zinco) também podem melhorar a função tireoidiana e favorecer a síntese endógena de hormônios tireoidianos. ^1-4

E o sobrepeso, pode contribuir para o desenvolvimento ou agravo dos distúrbios da tireoide?

De fato, a obesidade está associada a vários distúrbios metabólicos e endócrinos e pode contribuir para alterações nas concentrações plasmáticas, secreção e depuração de vários hormônios – incluindo o TSH e os hormônios tireoidianos T3 e T4. Estudos têm demonstrado que indivíduos obesos apresentam níveis séricos de TSH mais elevados, o que pode afetar a função da glândula tireoide.^5-9

A obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal devido a fatores genéticos e ambientais, além de um desequilíbrio entre ingestão e gasto de energia. Isso leva a hipertrofia dos adipócitos com disfunção do tecido adiposo branco, resultando no desenvolvimento de hipóxia, estresse oxidativo e inflamação. A disfunção do tecido adiposo na obesidade tem um impacto significativo sobre as funções metabólicas do organismo, resultando por exemplo em dislipidemia e resistência à insulina. ^5-9

O processo inflamatório envolve a produção aumentada de citocinas inflamatórias, como interleucina-1 (IL-1), IL-6 e fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) pelo tecido adiposo. Essas substâncias podem prejudicar a captação de iodo pelas células da tireoide, que é essencial para a síntese de hormônios tireoidianos. Além disso, a inflamação induz a vasodilatação e aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos da tireoide, levando a alterações morfológicas e funcionais. ^5-9

Ainda, a leptina – um hormônio produzido pelos adipócitos – também pode afetar a função da tireoide, alterando a morfologia dessa glândula e a expressão de proteínas importantes para a captação de iodo, o que interfere na síntese dos hormônios tireoidianos. Além disso, estudos sugerem que a inflamação crônica associada à obesidade pode afetar a atividade das deiodinases – enzimas envolvidas na conversão de T4 a T3, que é a forma biologicamente mais ativa dos hormônios tireoidianos. ^5-9

Em resumo, os estudos mostram que a disfunção do tecido adiposo é o principal fator responsável pelas alterações na homeostase dos hormônios tireoidianos, e a perda de peso pode reverter ou atenuar essas alterações. Portanto, manter um peso corporal dentro de uma faixa saudável é importante para prevenir ou atenuar os distúrbios da tireoide. Isso pode ser alcançado através de uma dieta equilibrada, prática regular de atividade física e estilo de vida saudável. A suplementação também pode ser útil no gerenciamento de peso e, consequentemente, na prevenção de distúrbios da tireoide.

O estado inflamatório crônico associado à obesidade gera a desregulação do metabolismo lipídico (aumento do colesterol LDL e triglicerídeos) e glicêmico (resistência à insulina e hiperglicemia), e agravam ainda mais a obesidade, podendo levar a complicações como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Nesse contexto, estudos têm demonstrado os benefícios de alguns suplementos no gerenciamento de peso corporal, contribuindo para a regulação de parâmetros metabólicos, melhora do perfil lipídico e regulação da glicemia. Esses benefícios podem ser obtidos através da suplementação com extratos vegetais como o Banaba, Citrus aurantium, Mangostim, Triphala e a Garcinia cambogia. Já suplementos como o Slendesta e o Glucomannan, modulam o apetite e aumentam a saciedade, reduzindo a ingestão alimentar. Além disso, a suplementação de paraprobióticos como os da linha ImmuneCal, por exemplo, pode auxiliar na redução da inflamação.^10-17

Embora o hipotireoidismo seja comumente associado ao ganho de peso, outros fatores (como genética e estilo de vida) exercem uma influência muito mais significativa sobre esse parâmetro. Por outro lado, a obesidade pode contribuir para distúrbios da tireoide devido à inflamação crônica, disfunção do tecido adiposo e alterações hormonais. No entanto, evidências sugerem que a perda de peso pode reverter ou atenuar essas alterações e contribuir para a melhora da função tireoidiana, reforçando a importância de manter um peso corporal dentro de uma faixa saudável. Além do tratamento farmacológico utilizado tradicionalmente para reposição dos hormônios tireoidianos, a suplementação pode contribuir para otimizar a função tireoidiana, favorecer a síntese endógena desses hormônios e auxiliar no gerenciamento de peso corporal, promovendo diversos benefícios à saúde.