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Fotoenvelhecimento: o que é, o que causa e como nos afeta?

Publicado em 17 de dezembro de 2020.

O envelhecimento do organismo se inicia a partir do momento em que nascemos. A pele é o órgão no qual os sinais de envelhecimento se tornam mais aparentes, pois além de ser o maior órgão do organismo, também atua como uma importante barreira de proteção contra a ação de agressores externos.

O envelhecimento cutâneo, por sua vez, é um processo natural e progressivo, caracterizado pelo aparecimento de rugas finas, bem como perda de elasticidade, hidratação e firmeza da pele. Tais alterações ocorrem devido ao envelhecimento celular do organismo (conhecido como senescência celular), onde as células do tecido cutâneo morrem e não são substituídas por novas, diferente do que ocorre, de forma rápida, na juventude.

Fisiologicamente, o processo de envelhecimento está associado à perda de tecido fibroso, à redução da rede vascular e glandular e à diminuição da renovação celular. O envelhecimento natural da pele é denominado de envelhecimento intrínseco ou cronológico, e está relacionado principalmente a fatores genéticos, alterações hormonais no tecido cutâneo e ao estresse oxidativo. Mas e o fotoenvelhecimento? O que é e como ele afeta a nossa pele?1

O envelhecimento da pele também pode estar associado com a exposição a fatores ambientais, sendo este chamado de envelhecimento extrínseco. O consumo excessivo de tabaco e álcool, a alimentação rica em alimentos industrializados e ultraprocessados, o estresse e a exposição a altos níveis de poluição são fatores ambientais que podem acelerar o processo de senescência celular. No entanto, a exposição solar e a radiação ultravioleta (UV) são os principais fatores ambientais associados ao envelhecimento da pele e, assim, define-se o conceito de fotoenvelhecimento. De fato, estima-se que 80 a 90% do envelhecimento da pele esteja associado com os efeitos da radiação solar.2

Para compreendermos o processo de fotoenvelhecimento é importante entender o que é a radiação solar e quais efeitos ela provoca em nossa pele. O Sol é essencial para a vida humana, contribuindo para a melhora do humor e do bem-estar, bem como exercendo funções importantes no organismo. Por exemplo, na produção de vitamina D endógena. Embora a luz solar seja composta por raios eletromagnéticos de diferentes frequências que, em sua grande maioria, são filtrados pela camada de ozônio do planeta, uma parcela destes raios chega à superfície terrestre e atinge a nossa pele.

A luz solar é constituída por três diferentes tipos de radiação UV. Os raios UVA, UVB e UVC. Os raios UVC, com comprimento de onda entre 100 a 290 nm, são amplamente bloqueados pela camada de ozônio e, portanto, apresentam pouco impacto sobre a pele. Os raios UVB (290 a 320 nm) penetram principalmente no extrato córneo, camada mais superficial da epiderme e são responsáveis pelo aparecimento do eritema – conhecido como “vermelhidão” – associado às queimaduras solares. Já os raios UVA (320 a 400 nm), penetram mais profundamente na pele, chegando até sua camada mais interna (a derme), e estão associados principalmente a lesões crônicas e profundas.

Além disso, a luz solar também compreende a radiação infravermelha (780 a 1400 nm) e a luz visível (400 a 780 nm), que também exercem efeitos cutâneos, podendo atingir desde as camadas superficiais até as mais profundas da pele. Contudo, os raios ultravioletas, (principalmente UVA e UVB) são os principais responsáveis pelo fotoenvelhecimento, e quando atingem a pele resultam na formação de espécies reativas de oxigênio (ROS) e outros radicais livres. Estas espécies são moléculas instáveis e altamente reativas, que promovem a quebra de proteínas do tecido cutâneo, aumento da inflamação, diminuição de células importantes para a resposta imune e dano ao material genético celular (ácido desoxirribonucleico – ADN). Ainda, os raios UV agem diretamente no ADN, promovendo alterações que prejudicam o processo de renovação celular. Outro mecanismo do fotoenvelhecimento ocorre através do encurtamento dos telômeros – estruturas presentes nas extremidades dos cromossomos e que têm seu tamanho reduzido à medida que ocorre a divisão celular. Desta forma, o encurtamento dos telômeros pela radiação UV acelera o processo de envelhecimento celular. Por fim, a radiação UV também promove o aumento da expressão das enzimas metaloproteinases (MMPs). Estas enzimas estão envolvidas na remodulação da matriz extracelular do tecido cutâneo, e promovem a degradação de colágeno e elastina, importantes proteínas estruturais da pele. Em conjunto, estes processos levam ao aparecimento precoce de linhas finas, rugas e manchas.3,4

Mecanismos que contribuem para o processo de fotoenvelhecimento da pele.

Ainda, os efeitos da radiação solar sobre a pele podem ir além de questões estéticas. O estresse oxidativo, o aumento da inflamação, as alterações no sistema imunológico e os danos no ADN provocados pela radiação UV também promovem a liberação de fatores que favorecem o desenvolvimento de carcinomas de pele. Câncer é um termo genérico que abrange mais de 100 diferentes tipos de doenças malignas, que têm em comum o crescimento desordenado de células, que pode acarretar no desenvolvimento de tumores e invadir tecidos adjacentes e outros órgãos, causando metástase. O câncer de pele, particularmente, está relacionado ao crescimento anormal e descontrolado das células que compõe as diferentes camadas da pele. De acordo com a camada afetada e com a sua agressividade, o câncer de pele pode ser classificado como não melanoma ou melanoma.

O câncer de pele não melanoma é o tipo de câncer mais frequente no Brasil e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados. Estima-se que cerca de 177 mil novos casos da doença ocorram no Brasil por ano. Este tipo de câncer apresenta alto percentual de cura se detectado e tratado precocemente. Entre os tumores de pele é o de menor mortalidade, porém, se não tratado adequadamente, pode levar a modificações expressivas na pele.

Já o câncer de pele melanoma é considerado o tipo mais agressivo e letal devido à sua alta possibilidade de provocar metástase. Apesar de ser mais raro, são registrados no Brasil cerca de 8,4 mil novos casos, com mais de 1,700 mortes a cada ano. O melanoma tem origem nos melanócitos, células responsáveis pela produção de melanina (pigmento que dá coloração à pele). Geralmente, surge nas áreas do corpo mais expostas à radiação solar e, quando no estágio inicial, se desenvolve apenas na camada mais superficial. No entanto, a lesão é mais profunda e espessa nos estágios mais avançados, aumentando a chance de atingir outros tecidos e órgãos, provocando a metástase e diminuindo a possibilidade de cura.5,6

Desta forma, o diagnóstico precoce do câncer de pele é indispensável para um melhor prognóstico do paciente. Embora os sintomas do câncer de pele possam variar de acordo com o seu estágio, o aparecimento de pintas, eczemas ou outras lesões (de aparência elevada, irregular, que mude sua cor, textura ou tamanho) podem indicar o surgimento de um tumor maligno. É importante conhecer e estar atento às mudanças em nosso corpo, bem como procurar auxílio médico especializado para um diagnóstico precoce e correto. Em geral, pessoas com pele mais clara e que se queimam com facilidade quando expostos ao sol apresentam maior risco de desenvolver a doença. Porém, indivíduos de pele mais escura também podem desenvolvê-la, ainda que mais raramente.5,6

Com a chegada do verão e aumento da exposição à radiação solar, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) iniciou no dia primeiro de dezembro a campanha ‘Dezembro Laranja’, que visa conscientizar a população quanto aos riscos e prevenção do câncer de pele. A campanha nasceu em 2014, completando 7 anos em 2020 e realizando diferentes ações de conscientização em parceria com instituições públicas e privadas. Um marco da campanha é o atendimento gratuito da população com o objetivo de prevenir e diagnosticar o câncer de pele.1,7

Mas o que podemos fazer para prevenir o câncer de pele e o fotoenvelhecimento precoce? Para evitar os danos causados pela radiação solar, é essencial que algumas medidas simples sejam adotadas desde a infância. O uso de protetor solar, por exemplo, bloqueia os raios UV que atingem a pele, diminuindo assim os efeitos indesejados decorrentes desta radiação. A SBD recomenda a utilização de protetores solares com fator de proteção solar contra os raios UVB (FPS) de no mínimo 30, sendo utilizado nas áreas expostas ou não. Além disso,  é importante observar os valores para o fator de proteção contra os raios UVA (PPD), que penetram a pele mais profundamente e são os maiores responsáveis pelo desenvolvimento do câncer de pele, manchas e rugas. O valor de PPD deve ser um terço do valor do FPS sendo, neste caso, recomendado a utilização de um protetor solar com PDD 10.  Recomenda-se, ainda, a aplicação com 30 min de antecedência à exposição solar, devendo ser reaplicado a cada 2 horas.

Os raios UVA e UVB não são filtrados pelas nuvens e assim, o protetor solar deve ser utilizado nos dias de sol ou nublados, no verão ou inverno. Adicionalmente, é possível prevenir, e também tratar os danos causados pelo sol através da utilização de produtos que combatam os efeitos da radiação UV. A utilização diária de produtos contendo em sua composição compostos com ação hidratante e antioxidante é uma estratégia importante no combate ao fotoenvelhecimento.8

 

 

O palmitato de ascorbila é um éster sintético da vitamina C (ácido ascórbico) que apresenta caráter lipofílico, alta estabilidade e capacidade de ultrapassar a barreira epitelial. Assim como a vitamina C, o palmitato de ascorbila apresenta ação antioxidante, reduzindo os níveis de radicais livres provenientes da exposição à radiação solar.

A vitamina C é uma molécula ácida, hidrossolúvel e termolábil, que para aplicação tópica, apresenta baixa capacidade de permeação do tecido cutâneo. Em contrapartida, devido às suas características lipofílicas, o palmitato de ascorbila consegue atingir as camadas mais profundas da pele quando administrado por via tópica, sendo uma alternativa mais estável e eficiente para o uso tópico da vitamina C. Ainda, o palmitato de ascorbila reduz a degradação de colágeno, a hiperpigmentação e a formação de eritemas cutâneos decorrentes da exposição excessiva ao sol.9,10

Os efeitos deletérios decorrentes da exposição excessiva à radiação UV são provenientes, principalmente, do aumento de ROS e de outros radicais livres no tecido cutâneo. Assim, a aplicação tópica do palmitato de ascorbila promove a neutralização destas espécies e diminuição do desequilíbrio oxidativo na pele, reduzindo a degradação de colágeno, rugas e linhas finas. Adicionalmente, o palmitato de ascorbila reduz a atividade da enzima tirosinase que promove a conversão de tirosina em melanina nos melanócitos. A diminuição da atividade enzimática da tirosinase resulta na diminuição da produção de melanina e, consequentemente, é observado um efeito clareador na pele. Desta forma, o palmitato de ascorbila também pode ser utilizado para auxiliar no tratamento de melasmas (manchas escuras na pele).11,12

O palmitato de ascorbila reduz o estresso oxidativo e o processo inflamatório cutâneo, protegendo as células contra os danos gerados pela radiação ultravioleta.

 

O ácido hialurônico (HA) é um polímero de ocorrência natural composto pela repetição de dissacarídeos de ácido D-glicurônico e N-acetil-D-glucosamina, unidos através de ligações glicosídicas β-(1 → 4) e β-(1 → 3). No organismo de um indivíduo de 70 kg há cerca de 15 g de HA, sendo uma maior quantidade encontrada na pele (metade do HA total), no líquido sinovial e no corpo vítreo do segmento posterior do olho, além de também estar presente em articulações, tendões, bainhas, pleura e no pericárdio.

Embora o HA seja um constituinte importante da matriz extracelular, também pode estar presente no interior das células. O HA participa da regulação de processos fisiológicos importantes para a homeostasia do organismo, e está envolvido na resposta anti-inflamatória, cicatrização e regeneração de diferentes tecidos, assim como na melhora da hidratação e resistência a danos mecânicos. Ainda, apresenta propriedades antioxidante, imunomoduladora e anti-proliferativa.13,14

Devido à presença de grupamentos hidroxila e carboxila em sua estrutura química, o HA é um composto altamente hidrofílico que interage com um grande número de moléculas de água – sendo capaz de reter aproximadamente 1000 vezes mais que o seu peso em água. Desta forma, a utilização de HA por via tópica melhora o preenchimento e a hidratação do tecido cutâneo, além de aumentar a resistência celular contra danos mecânicos. Além disso, o HA também desempenha um papel importante na formação da matriz extracelular, onde interage com diversas proteínas e auxilia na organização estrutural entre as fibras de colágeno e a elastina na pele.14,15

O HA ainda se liga ao receptor CD44 em membranas celulares. Este receptor é uma glicoproteína transmembrana encontrada em quase todas as células do organismo humano, incluindo os queratinócitos da pele. O CD44 está envolvido na regulação de respostas inflamatórias e em processos de migração e proliferação celular. Os efeitos biológicos desencadeados pela interação entre o HA e o CD44 são fortemente influenciados pelo tipo celular em que estes receptores estão localizados e pelo tamanho e peso molecular do HA. Já́ foi demonstrado que a ligação do HA de alto peso molecular ao CD44 inibe a expressão de interleucina 1β (IL-1β), o que resulta na redução de enzimas metaloproteinases (MMPs) e atenua a degradação de componentes da matriz extracelular da pele. Portanto, o HA pode ser utilizado para a prevenção e tratamento eficaz dos danos causados pelo fotoenvelhecimento na pele.16,17

Principais funções do ácido hialurônico na pele.

 

As informações fornecidas neste blog destinam-se ao conhecimento geral e não devem ser um substituto para a orientação de um profissional médico ou tratamento de condições médicas específicas. As informações aqui apresentadas não têm o objetivo de diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer doença.

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