Microbiota e a síndrome metabólica: têm relação?
Publicado em 19 de setembro de 2022
A microbiota compreende todo o complexo conjunto de microrganismos que nos habitam. Temos bactérias e outros microrganismos vivendo em diversas partes do nosso corpo, como a pele e as mucosas, por exemplo. Mas, de maneira geral, quando ouvimos falar da microbiota é à intestinal que se referem.
Nos últimos dez anos, foram os residentes do intestino que ganharam mais destaque devido ao rápido avanço nas pesquisas que demonstraram que muito mais do que auxiliar na digestão de alguns alimentos, eles secretam moléculas capazes de interferir no funcionamento do corpo humano. Já foram documentados na literatura científica efeitos estimulantes sobre o sistema imunológico, na regulação endócrina, modificação do efeito e metabolismo de fármacos, até alterações nos sistemas de neurotransmissão – com implicações sobre o humor e a cognição!
Outro efeito que tem sido amplamente estudado é a modulação do metabolismo. Isso mesmo, o seu metabolismo está sendo direta e indiretamente influenciado pela composição da sua microbiota intestinal. Isso pode ser muito positivo, uma vez que, entendendo melhor como isso funciona podemos alterar nossa microbiota no sentido de deixa-la mais favorável ao nosso metabolismo. Mas o oposto também é verdadeiro, dependendo da sua composição a microbiota pode prejudicar muito o metabolismo, inclusive favorecendo a síndrome metabólica.
Mas o que é a síndrome metabólica e por que ela deve ser evitada a todo custo?
A síndrome metabólica é um conjunto complexo de disfunções em vários sistemas do corpo humano que aumenta bastante o risco de desenvolvimento de doenças como as cardiovasculares e a diabetes tipo 2. Ela pode incluir a hipertensão arterial, a hiperglicemia (níveis muito altos de glicose no sangue), excesso de gordura visceral (quando a gordura acumula-se em torno dos órgãos abdominais e aumenta a medida da circunferência de cintura) e hipercolesterolemia (níveis muito altos de colesterol na circulação sanguínea).
Um dos pontos principais da síndrome metabólica é a resistência à insulina. Isso significa que os tecidos perdem a capacidade de responder à insulina e captar a glicose do sangue, um fator primordial no desenvolvimento da diabetes tipo 2, também envolvida em outras doenças. Essa resistência à insulina gera um acúmulo da glicose no sangue, e quando essa concentração aumenta muito ela pode reagir com outras moléculas num processo chamado de glicação. As proteínas glicadas tem prejuízo no desempenho de sua função e contribuem para o agravamento do quadro de síndrome metabólica.
Se não for tratada adequadamente, a síndrome metabólica pode levar a infartos do miocárdio (conhecido popularmente como ataque do coração), acidentes vasculares cerebrais (também chamado popularmente de derrames), doenças vasculares periféricas e a própria diabetes tipo 2 com todas as suas complicações.
O principal fator que desencadeia a síndrome metabólica é o estilo de vida. Principalmente uma alimentação inadequada que leva ao sobrepeso e o sedentarismo. Se quiser ler um pouco sobre a relação do excesso de peso com a resistência à insulina e outras implicações metabólicas, clique aqui. 1
A síndrome metabólica combina diferentes disfunções que culminam no risco aumentado de desenvolvimento de doenças crônicas como diabetes e hipertensão. Adaptado de shutterstock.com, 2022.
Mas qual a relação entre a síndrome metabólica e a microbiota?
Bem, como comentamos no início, estudos já demonstraram que a composição da microbiota tem implicações no metabolismo de maneira geral. A diversidade de microrganismos, por exemplo, é um dos fatores que estão bem consolidados. Uma baixa diversidade, também chamada de empobrecimento da microbiota (poucas espécies diferentes), está associada a um maior acúmulo adiposo, resistência insulínica, aumento de parâmetros inflamatórios e dislipidemia, fatores intimamente envolvidos na síndrome metabólica. 2
A disbiose, que é um desbalanço entre as bactérias comensais (também conhecidas como “boas”) e as patogênicas (aquelas que levam ao desenvolvimento de doenças), contribui para o quadro da síndrome metabólica. Elas favorecem, por exemplo, o acúmulo de gordura no fígado, também chamado de esteatose hepática, que é um dos achados comuns em pacientes com síndrome metabólica. 3
O metabolismo é influenciado pela microbiota de diversas formas. Adaptado de shutterstock.com, 2022.
Esses efeitos acontecem principalmente desencadeados por algumas moléculas que as bactérias produzem durante seus próprios metabolismos. A síntese bacteriana de alguns compostos como o propionato de imidazol, produzido por espécies como Streptococcus mutans e Eggerthella lenta, prejudicam a sinalização da insulina, também favorecendo a síndrome metabólica. Já a síntese de outras moléculas, como succinato e indol, podem contribuir para a melhora da resposta à insulina e para a redução dos parâmetros inflamatórios. 3
E como podemos modificar a microbiota?
A composição da nossa microbiota é bastante dinâmica, o tempo todo alguns microrganismos estão morrendo e outros se multiplicando. Modular, ou modificar, nossa microbiota pode ser bastante rápido, como quando tomamos um antibiótico e em poucas horas ou dias sentimos os efeitos da disbiose (que pode ser evidenciada por sintomas intestinais como diarreia). Mas no geral, essa modulação é um pouco mais lenta, exigindo semanas ou até meses de manutenção de um estilo de vida saudável para estabilizar uma microbiota mais favorável ao metabolismo.
A nossa microbiota sofre diversas influências desde a forma de nascimento (se entrou em contato com a microbiota do canal vaginal da mãe ou não), a alimentação durante a infância (se foi amamentado com leite materno ou não), o estilo de vida, medicamentos que consumiu e até mesmo o perfil genético herdado. A microbiota ideal é bastante variável de um indivíduo para outro, uma vez que sofre essas influências que são particulares de cada um. 3
Nesse sentido, uma alternativa com enorme potencial é a suplementação com probióticos. Os probióticos nada mais são do que as próprias bactérias, que quando suplementadas de maneira adequada, chegam vivas ao intestino e podem servir de reforço para as bactérias comensais, ou ainda podem ajudar na repopulação de algumas espécies em particular que podem estar ausentes em algumas condições clínicas como a obesidade e a própria síndrome metabólica. A suplementação com os probióticos tem a vantagem de possibilitar o controle preciso da espécie e da quantidade de bactérias que vamos ingerir, contribuindo de maneira inigualável para a modulação da microbiota intestinal.
A modulação da microbiota pode ser feita de diversas formas. Adaptado de shutterstock.com, 2022.
Outra forma que tem sido estudada é o transplante fecal. Uma vez que parte da nossa microbiota é excretada nas fezes, transferi-las para outra pessoa tem um efeito parecido com a ingestão de um conjunto de probióticos. Já foi demonstrado, por exemplo, que esse tipo de abordagem pode curar alguns quadros de diarreia crônica. No entanto, ainda é uma abordagem nova que precisa ser mais bem estudada. 4
Um estudo de 2020 calculou a prevalência de síndrome metabólica no Brasil em quase 40%, um dado bastante alarmante e que na imensa maioria dos casos poderia ser evitado! Mais uma vez, o conjunto de hábitos saudáveis é o grande segredo para uma microbiota e metabolismo saudáveis. E você, já se perguntou como anda a sua microbiota? 1
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