O papel da melatonina na resposta imune: evidências recentes da literatura e Covid-19
Publicado em 14 de janeiro de 2021.
A melatonina é conhecida por seus efeitos cronobióticos, regulando diferentes funções fisiológicas ligadas aos ritmos circadianos.
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Mais recentemente, tem sido demonstrado que a melatonina pode exercer efeitos moduladores sobre a resposta imune por meio de suas ações antioxidantes, anti-inflamatórias e anti-apoptóticas. Isso porque a melatonina é sintetizada não só pela glândula pineal, mas também sob demanda pelas células do sistema imunológico, ou seja, em resposta a uma agressão ou ataque por um agente infeccioso.
Na presença de agente infeccioso ou corpo estranho, o sistema imunológico é capaz de desencadear um processo inflamatório como resposta protetora, estimulando a liberação de citocinas e outros mediadores pró-inflamatórios. Em algumas condições (como infecções virais e doenças autoimunes) essa resposta inflamatória pode acontecer de forma exagerada levando a uma “tempestade de citocinas”, também chamada hipercitocinemia. Nestes casos, a inflamação local e sistêmica pode se tornar crônica e levar à disfunção de alguns órgãos e até mesmo à sepse (infecção generalizada).
Tem sido demonstrado que o vírus SARS-CoV-2, responsável pela doença COVID-19, é capaz de induzir à resposta inflamatória exacerbada, que está relacionada às manifestações clínicas graves desta condição, incluindo lesão pulmonar e síndrome respiratória aguda grave.
Neste sentido, diversos estudos pré-clínicos em culturas celulares e modelos animais, evidenciaram que a melatonina é capaz de reduzir as espécies reativas de oxigênio e a produção de citocinas pró-inflamatórias, além de proteger a função mitocondrial e prevenir a apoptose, que é a morte celular. Atuando por diferentes vias além do local de inflamação, a melatonina poderia neutralizar a resposta inflamatória sistêmica e atenuar tanto a progressão das infecções quanto as manifestações clínicas associadas.
A enzima conversora da angiotensina 2 (ECA2) presente nas células endoteliais dos pulmões funciona como um receptor para a proteína spike (S-spike) do coronavírus. O papel fisiológico da ECA2 nas vias respiratórias está relacionado ao efeito protetor e vasodilatador. Quando o SARS-CoV-2 se liga à ECA2 há uma desregulação da atividade desta enzima, levando à replicação e liberação das partículas do vírus e às manifestações clínicas da infecção, incluindo síndrome respiratória aguda grave, pneumonia e lesões pulmonares, observadas na COVID-19. Neste sentido, a melatonina secretada pelas células de defesa que estão nos pulmões (especialmente os macrófagos) pode apresentar efeito antioxidante, neutralizando o excesso de espécies reativas de oxigênio (ROS), assim como suprimir as vias inflamatórias e limitar os danos causados pela tempestade de citocinas que estão diretamente relacionados à gravidade das lesões pulmonares na COVID-19. (ADAPTADO DE CHENG ET AL., 2021)
Nos últimos dias, um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e publicado na revista Melatonin Research, ganhou grande repercussão ao demonstrar que a melatonina sintetizada pelas células pulmonares poderia ser uma barreira à infecção pelo coronavírus. O objetivo do estudo foi avaliar se havia relação entre a capacidade dos pulmões em sintetizar melatonina e a expressão de genes que facilitam a invasão e proliferação do coronavírus. Para isso, foram utilizadas ferramentas de bioinformática, dados de sequenciamento genético e células pulmonares de animais. Ao final do estudo, os pesquisadores demonstraram que a síntese de melatonina pelas células pulmonares dificultaria a entrada do coronavírus nestas células o que pode justificar, por exemplo, a existência de pacientes assintomáticos. Assim, é sugerido que os níveis de melatonina mensurados através de um índice de expressão gênica (que os pesquisadores chamaram de MEL-Index) seria um biomarcador preditivo na transmissão do coronavírus em pacientes assintomáticos, auxiliando no controle da pandemia. Além disso, os pesquisadores supõem que a administração de melatonina pela via intranasal em pacientes pré-sintomáticos, com diagnóstico laboratorial positivo para o coronavírus, poderia limitar a evolução da infecção e as manifestações clínicas. Apesar dos resultados muito promissores, são necessários estudos clínicos em humanos, a fim de determinar a dose e a forma farmacêutica adequada, assim como o esquema terapêutico que proporcione a resposta terapêutica esperada.
O trabalho completo pode ser acessado neste link.
O potencial terapêutico da melatonina na modulação do sistema imunológico, especialmente limitando a “tempestade de citocinas”, permanece sendo explorado na prevenção da progressão de síndrome respiratória aguda grave e insuficiência respiratória e poderia beneficiar pacientes com infecções respiratórias virais, como a COVID-19. Além disso, o papel da melatonina tem sido avaliado como adjuvante na eficácia da vacinação contra o coronavírus.
A melatonina é um hormônio e só pode ser dispensada mediante prescrição médica. Ressaltamos que, atualmente, não há tratamento ou suplemento direcionados para a prevenção ou tratamento da doença COVID-19. Estudos seguem sendo conduzidos em diferentes países e alguns resultados tem sido promissores.
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Literaturas consultadas
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