O que são produtos de glicação e como afetam a nossa saúde?
Publicado em 11 de fevereiro de 2021.
A reação de glicação, também conhecida como reação de Maillard, é um conceito descrito pela primeira vez pelo químico Louis Camille Maillard, no início do século passado, com o intuito de explicar os motivos pelos quais os alimentos apresentavam mudanças de cor e de odor após serem submetidos ao processo de cozimento. Neste contexto, Maillard demonstrou que durante o cozimento, os açúcares e aminoácidos presentes nos alimentos reagiam entre si, escurecendo a porção superficial e liberando um odor característico. Anos mais tarde foi demonstrado que essa reação, embora em condições diferentes, também ocorre naturalmente nos seres humanos e está intimamente envolvida com o processo de envelhecimento.1
No organismo humano, a glicação consiste em uma reação espontânea entre moléculas de açúcares (glicose) e compostos como proteínas, lipídios e ácidos nucleicos (DNA e RNA), formando os “produtos de glicação avançada” (AGEs, do inglês Advanced glycation End-Products). A formação dos AGEs ocorre lentamente em todos os tecidos e fluidos corporais, afetando predominantemente moléculas de meia-vida longa (como a hemoglobina, a albumina e o colágeno). Na pele, por exemplo, a glicação é um dos principais responsáveis pelo aspecto de envelhecimento. Neste contexto, os AGEs – formados a partir da glicação das moléculas de colágeno e elastina – promovem o enrijecimento e a degradação das fibras dérmicas, reduzindo a elasticidade do tecido e formando rugas e linhas de expressão. Ainda, ao modificar as propriedades químicas e funcionais destas moléculas, os AGEs provocam o aumento do estresse oxidativo, da inflamação e do dano tecidual.2
Embora seja um processo de ocorrência natural, você sabia que níveis elevados de AGEs também estão envolvidos com o desenvolvimento e agravo de doenças metabólicas? A diabetes, por exemplo, é uma síndrome metabólica decorrente da falta e/ou incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus efeitos, resultando no aumento da concentração sérica de glicose (hiperglicemia). Com isso, a glicose em excesso promove o aumento da concentração de AGEs na corrente sanguínea e provoca diferentes danos ao organismo. Nestas condições, os AGEs podem ser produzidos por três diferentes maneiras:
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Glicação de proteínas (via clássica): A glicose em excesso reage com diferentes proteínas sanguíneas, tal como a hemoglobina. Assim, resulta na formação de hemoglobina glicada – principal marcador bioquímico da diabetes. Este processo, semelhante ao que acontece com o colágeno da pele, resulta no aumento das concentrações de AGEs e do estresse oxidativo;
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Estresse carboxílico (via alternativa): Processo de oxidação das moléculas de glicose, conhecido como “estresse carboxílico”. Essa reação oxidativa promove a formação de inúmeros intermediários reativos, que reagem com aminoácidos circulantes formando os produtos de glicação;
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Processo inflamatório (via inflamatória): Os AGEs também podem ser formados a partir de componentes pró-inflamatórios liberados por células do sistema imunológico. Desta forma, após diferentes estímulos (infecciosos, autoimunes ou induzidos por doenças inflamatórias como a diabetes e a obesidade) estas células aumentam a produção de enzimas oxidativas (mieloperoxidase e NADPH oxidase), induzindo, por sua vez, a oxidação da glicose (via alternativa) e a produção dos AGEs.3
A produção endógena de AGEs pode ocorrer através do processo de glicação de proteínas (via clássica), oxidação da glicose (via alternativa) e do processo inflamatório (via inflamatória).
Desta forma, quando associados ao processo inflamatório e ao estresse oxidativo, os AGEs aumentam os riscos de desenvolvimento de complicações diabéticas denominadas como micro e macroangiopatias.3,4
A microangiopatia corresponde a danos vasculares (em pequenos capilares) no interior de tecidos e órgãos. Destes, destacam-se a retinopatia (caracterizada pelo aumento da permeabilidade celular e lesões na retina), a nefropatia (promove o declínio nas funções renais e aumento da pressão sanguínea), além de neuropatias periféricas e o comprometimento da cicatrização de feridas cutâneas.
Já as macroangiopatias referem-se às complicações cardiovasculares decorrentes de modificações em veias e artérias. Na parede das artérias, os AGEs formam ligações cruzadas entre moléculas da matriz extracelular, reduzem a ação do óxido nítrico e da prostaciclina (mediadores responsáveis pelo relaxamento vascular) e favorecem a produção de vasoconstritores, refletindo no enrijecimento das artérias e no aumento da pressão arterial. Ainda, os AGEs iniciam reações oxidativas em lipoproteínas de baixa densidade (LDL), formando as LDL-oxidadas e favorecendo a formação das placas de ateroma (aterosclerose).3,4
Por outro lado, em indivíduos saudáveis que possuem níveis glicêmicos e lipídicos adequados, o organismo consegue inibir a formação dos AGEs através da ação de enzimas, tais como a aldose redutase e a frutosamina oxidase. Estas enzimas reagem com compostos intermediários reativos (como os ácidos dicarboxilicos formados a partir da oxidação da glicose) neutralizando-os e prevenindo a formação de produtos de glicação. Ainda, esses intermediários neutralizados podem ser eliminados dos tecidos através de células do sistema imunológico. Desta forma, os macrófagos internalizam e degradam esses produtos, liberando na corrente sanguínea, compostos que são filtrados pelos rins e eliminados na urina.5
Além destes mecanismos endógenos de proteção, os cuidados com a alimentação (através do consumo de alimentos com baixo índice glicêmico, bem como a redução do consumo de frituras e gorduras saturadas) associados à prática regular de exercícios físicos, além do manejo da diabetes e da dislipidemia, também são fundamentais para prevenir a produção dos AGEs e reduzir os riscos de doenças associadas aos produtos de glicação.5
A tiamina (também conhecida como vitamina B1) é uma vitamina hidrossolúvel sintetizada por bactérias, fungos e plantas, sendo encontrada em diversos alimentos de consumo humano, incluindo cereais, grãos, legumes e algumas carnes e peixes. Desempenha um papel importante no metabolismo de carboidratos, gorduras e proteínas, atuando como uma coenzima (a difosfato de tiamina), assim como no funcionamento do sistema nervoso central. A benfotiamina, por sua vez, é um derivado sintético da tiamina que, devido à sua natureza química lipofílica, possui melhor perfil de absorção e maior biodisponibilidade quando administrada por via oral.
Os efeitos benéficos observados após a suplementação com benfotiamina podem ser atribuídos a diversos mecanismos moleculares, incluindo a regulação de diferentes vias e mediadores envolvidos na sinalização celular, tais como fator de transcrição nuclear κB (NF-κB) e ácido araquidônico. Além disso, a benfotiamina inibe a formação de produtos finais de glicação avançada (AGEs) e reduz o estresse metabólico induzido pela hiperglicemia, auxiliando na proteção contra danos microvasculares em pacientes diabéticos. Dessa forma, ao modular a atividade dos complexos enzimáticos envolvidos na formação de AGEs (tais como piruvato desidrogenase, 2-oxoglutarato desidrogenase, aldose redutase e proteína quinase C), a benfotiamina auxilia na prevenção contra danos celulares e teciduais característicos da diabetes, incluindo microangiopatia, retinopatia, nefropatia, neuropatia e comprometimento do processo de cicatrização.
Após a difusão através das membranas dos enterócitos, a benfotiamina inibe a formação de produtos finais de glicação avançada (AGEs), conferindo proteção contra danos microvasculares em pacientes diabéticos. Além disso, a benfotiamina regula diferentes vias e mediadores envolvidos na sinalização celular e processos inflamatórios.
Popularmente conhecido como melão de São Caetano ou melão amargo (Bitter Melon, em inglês), Momordica charantia L. é uma planta frequentemente encontrada em países de clima tropical e subtropical, incluindo o Brasil. Às folhas, frutos e sementes desta planta são atribuídas diversas propriedades terapêuticas, principalmente hipoglicemiante, antioxidante e anti-inflamatória.
Dentre os principais compostos bioativos de Momordica charantia destacam-se a charantina e o polipeptídeo-p (conhecido como insulina-p), que possuem estrutura química semelhante à da insulina e estão intimamente associados à ação hipoglicemiante desta planta, além dos flavonoides e saponinas que apresentam pronunciado efeito anti-inflamatório e antioxidante. Assim, ao promoverem uma redução da glicemia e da resistência à insulina, estes compostos bioativos contribuem para a prevenção e tratamento de diabetes, bem como de outras disfunções metabólicas comumente associadas, incluindo dislipidemias, obesidade e doenças cardiovasculares.
O polipeptídeo-p (presente em Bitter Melon) promove a ativação dos receptores de insulina e o aumento da internalização de glicose pelas células, reduzindo a hiperglicemia.
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