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Você sabe o que é autofagia e como ela influencia a sua saúde?

Publicado em 01 de junho de 2021.

A palavra autofagia vem do grego e significa “comer a si mesmo”. É um processo natural do organismo em que as células “digerem” partes de si mesmas com o objetivo principal de regeneração celular. O processo de autofagia permite a eliminação de proteínas e organelas celulares – estruturas que executam funções importantes para a homeostase das células – que estão danificadas ou envelhecidas, e que não apresentam mais a capacidade de desempenhar adequadamente a sua função. O processo de autofagia foi descoberto em 1960, no entanto, ganhou maior destaque após as descobertas do cientista japonês Yoshinori Ohsumi, que desvendou os mecanismos envolvidos neste processo e como modulá-los em prol da saúde – o que lhe rendeu o prêmio Nobel de Medicina em 2016.

Diversos estudos demonstram que defeitos nos mecanismos de autofagia estão associados ao desenvolvimento de inúmeras doenças, incluindo doenças neurodegenerativas (como as doenças de Parkinson e Alzheimer), diabetes mellitus tipo 2, doenças cardiovasculares e até mesmo câncer. Ainda, a autofagia pode desacelerar o processo de envelhecimento e favorecer a redução do peso corporal, podendo contribuir para a longevidade saudável (indicador de expectativa de vida associada a uma boa saúde). Mas afinal, como é possível ativar estes mecanismos de autofagia de forma adequada e se beneficiar de seus efeitos? 1,2

Evidências apontam que a autofagia é regulada, principalmente, por duas principais vias de sinalização: a via de sinalização dependente de AMPK (proteína quinase ativada por monofosfato de adenosina) e a via do mTOR (complexo sensível a rapamicina, do inglês mammalian target of rapamycin). Tais vias são importantes para o funcionamento da maquinaria celular, sendo a via AMPK associada à regulação do metabolismo energético, enquanto mTOR está relacionada ao crescimento e proliferação celular. A autofagia celular ocorre quando há a ativação de AMPK e consequente ativação do complexo ULK1, envolvido na formação do autofagossoma – estrutura celular utilizada para a degradação de componentes presentes no citoplasma celular. Em contrapartida, mTOR inibe ULK1, bloqueando o processo de autofagia quando esta via de sinalização encontra-se ativada. Desta forma, inúmeros estudos têm buscado formas de ativar AMPK e inibir mTOR a fim de favorecer a autofagia no organismo. 3

Neste sentido, estudos demonstram que o jejum intermitente e a restrição calórica contribuem para a ativação do processo de autofagia. O jejum intermitente – também considerado uma forma de restrição calórica – consiste em passar longos períodos sem a ingestão de alimentos. Esta prática pode ser realizada de diferentes formas, sendo mais comumente recomendado o jejum por um período de 16 a 18 h. A restrição calórica, por sua vez, baseia-se na ingestão de alimentos com baixo teor de carboidratos, alto teor de gorduras insaturadas e moderado teor de proteínas. Estas práticas podem ser realizadas em associação e, além de contribuir para a redução do peso corporal, provocam efeitos a nível celular, incluindo a redução de espécies reativas de oxigênio (ROS) e diminuição do estresse oxidativo, bem como redução de marcadores inflamatórios e ativação da via de sinalização mediada por AMPK, contribuindo assim para a indução da autofagia. 4,5

Adicionalmente, a ativação de AMPK é dependente das concentrações de ATP (trifosfato de adenosina) disponíveis para o metabolismo celular. O ATP é a principal fonte de energia para as células, sendo convertido à AMP (monofosfato de adenosina) em condições de elevado gasto energético como, por exemplo, durante a prática de exercícios físicos. A diminuição dos níveis celulares de ATP e consequente aumento dos níveis de AMP resultam na ativação de AMPK. Ainda, o aumento de ROS e dos níveis de NAD+ – frequentes durante a exaustão física – também resultam no aumento desta proteína. Portanto, a prática de exercícios de alta intensidade também favorece a autofagia a partir da ativação de AMPK. 6

A utilização de compostos naturais que modulem os processos de autofagia também vem sendo amplamente investigada. Diversos estudos pré-clínicos demonstram que compostos polifenólicos (presentes em alimentos e bebidas consumidos na dieta) modulam diferentes proteínas envolvidas nas vias de sinalização da autofagia. Tais compostos incluem a curcumina, a epigalocatequina-3-galato e a oleuropeína, presentes na cúrcuma, chá verde e azeite de oliva, respectivamente. Em particular, os efeitos da suplementação com resveratrol – polifenol encontrado principalmente em uvas vermelhas e que possui potente ação antioxidante e anti-inflamatória – tem despertado grande interesse, uma vez que diversos estudos pré-clínicos já demonstraram a propriedade deste composto de modular a autofagia. Em modelos de isquemia cerebral (caracterizada pela diminuição ou ausência de fluxo sanguíneo para o cérebro), a administração de resveratrol restringiu o tamanho da área afetada, bem como aumentou a taxa de sobrevivência dos animais que receberam este composto. O mesmo efeito não foi observado quando um inibidor da proteína AMPK foi administrado. O resveratrol atua na modulação das vias de sinalização dependentes de AMPK, regulando o metabolismo energético e a autofagia, auxiliando na eliminação de estruturas celulares danificadas e contribuindo para a melhora da saúde celular e do organismo como um todo. 7–9

O estudo completo pode ser acessado através do link:

Estratégias para modular a autofagia no organismo. Adaptado de www.shutterstock.com, 2021.

 

 


As informações fornecidas neste blog destinam-se ao conhecimento geral e não devem ser um substituto para a orientação de um profissional médico ou tratamento de condições médicas específicas. As informações aqui apresentadas não têm o objetivo de diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer doença.

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