Publicado em 11 de setembro de 2023

Estima-se que apenas cerca de 20% da longevidade está atrelada a fatores genéticos. Assim, fatores ambientais, como principalmente o estilo de vida, correspondem a 80% da chance de nos tornarmos longevos. Mas quais os fatores que podemos modular pensando em viver mais e melhor? Uma boa pista pode estar nas zonas azuis.

O que são essas zonas azuis?

Zonas azuis (blue zones) são regiões do planeta associadas à longevidade, pois têm uma alta concentração de indivíduos centenários. A expectativa de vida nessas regiões é bem acima das médias globais e nacionais. Outro ponto de destaque é a incidência baixíssima de doenças crônicas. Em outras palavras, nas zonas azuis vive-se mais e com mais qualidade.

Até hoje, foram validadas 5 zonas azuis no mundo. São elas: a ilha de Okinawa no Japão, a região da Ogliastra, na ilha Sardenha na Itália, a península de Nicoya na Costa Rica, a ilha de Ikaria na Grécia e a comunidade adventista de Loma Linda nos Estados Unidos.

O que podemos aprender com as zonas azuis?

Dan Buettner, o jornalista que conduziu a pesquisa sobre a longevidade das zonas azuis, identificou 9 pontos em comum entre as zonas azuis. Ele e seu time batizaram esse grupo de fatores de Power 9, algo como os “9 Poderosos” em português.

Nas Zonas Azuis, a alimentação é um ritual, não uma corrida. Os alimentos são cultivados localmente e consumidos com gratidão. Vegetais frescos, frutas e grãos integrais são as estrelas do cardápio, pois a base alimentar constituída majoritariamente por plantas (plant-based). Cerca de 95% das refeições são provenientes de plantas, e apenas 5% têm origem animal. O consumo de carne, por exemplo, se limita a no máximo 5 porções em um mês.

Além disso, outro fator importante é a moderação na alimentação. Em Okinawa, por exemplo, o costume é comer até sentir que está com cerca de 80% do estômago cheio. Assim, evita-se comer em excesso, o que contribui para o excelente gerenciamento de peso corporal. Isso contribui de diversas formas para as taxas baixíssimas de doenças como obesidade e diabetes.

A atividade física natural é outro fator de destaque nas zonas azuis. As pessoas não passam horas na academia, mas movimentam-se naturalmente em suas vidas diárias. Trabalhando na terra, caminhando pelas colinas, dançando com os amigos – o exercício é uma parte intrínseca de suas rotinas.

Outro segredo das Zonas Azuis é desacelerar e cultivar a calma. Nesses locais não se costuma sofrer com estresse, pois são mantidos hábitos como meditação e relaxamento. Essas comunidades entendem que a tranquilidade mental é tão importante quanto a saúde física. Pode não parecer tão fácil, mas com a prática torna-se quase automático lembrar de respirar profundamente e encontrar momentos de calma no turbilhão do dia a dia. Em Okinawa, é comum tirar alguns momentos do dia para relembrar seus ancestrais, os adventistas de Loma Linda pausam o dia para orar, os ikarianos tiram cochilos diários e os sardenhos têm happy hours.

O senso de propósito também é bastante prevalente nessas regiões. Inclusive em boa parte delas não se têm o conceito de aposentadoria. Mesmo os idosos seguem contribuindo para a comunidade com suas habilidades e talentos. Todos têm a clareza de como podem servir a comunidade e o engajamento para seguir seu propósito até o final da vida. Em Nicoya chama-se de plan de vida e em Okinawa ikigai, que se traduzem em algo como “por que eu acordo de manhã?”. Estima-se que saber seu propósito pode adicionar até 7 anos na sua expectativa de vida.

Mas talvez o maior segredo das Zonas Azuis seja o senso de comunidade. Laços familiares fortes e conexões sociais profundas sustentam essas pessoas ao longo de suas vidas. Além disso, valoriza-se muito estar na “tribo certa”, ou seja, manter um círculo social que se engaja em hábitos saudáveis. Em Okinawa, por exemplo, todos têm o seu moai – um grupo de amigos que se apoiam e realizam atividades como caminhadas diárias juntos. Além disso, eles também priorizam seus amados, colocando a família em primeiro lugar. A dedicação à família é realmente notável, compartilhando tempo e amor, e mantendo os parentes idosos sempre próximos.

O hábito de beber álcool moderadamente também é comum em todas as zonas azuis, com exceção dos adventistas de Loma Linda. O time de Buettner apelidou esse fator de wine at 5, algo como o vinho das 5. No entanto, é importante enfatizar a moderação, pois os centenários das zonas azuis costumam beber de 1 a 2 copos ao dia. E eles ainda aconselham: não, você não pode acumular para tomar todas as doses semanais aos fins de semana.

O último fator, mas não menos importante é o pertencimento, no sentido de sentir-se parte de um grupo que exercita a fé. Independente da religião, praticamente todos os centenários das zonas azuis frequentam regularmente comunidades baseadas na fé.

Assim como um mágico revelando seus truques, as zonas azuis nos ensinam que a vida longa e saudável é o resultado de escolhas conscientes e um compromisso com o bem-estar, não um ato de magia. Temos muito a aprender com essas regiões onde a idade é apenas um número. E quanto a você, quantos desses pontos já são hábitos na sua vida?