Probióticos: estratégia complementar no manejo da infecção por H. pylori
Publicado em 10 março de 2025.
A infecção por Helicobacter pylori (H. pylori) afeta aproximadamente metade da população mundial, e em determinados casos pode gerar complicações como o desenvolvimento de gastrite ou úlceras pépticas. Atualmente, o tratamento é realizado através de uma combinação de medicamentos antibióticos e inibidores da bomba de prótons, contudo, os efeitos adversos e o desenvolvimento de resistência bacteriana trazem a necessidade de novas estratégias no manejo dessa infecção. No blog de hoje, vamos explorar o papel dos probióticos nesse cenário, e a forma como esses microrganismos podem auxiliar no manejo da infecção por H. pylori.
O que é Helicobacter pylori?
A H. pylori é uma bactéria frequentemente encontrada no estômago, e está presente em pelo menos metade da população mundial, sendo considerada uma das infecções bacterianas crônicas mais comuns. A transmissão desse patógeno pode ocorrer de pessoa para pessoa, ou através do consumo de água e alimentos contaminados.
Apesar de a maioria dos indivíduos infectados não apresentarem sintomas, a H. pylori pode comprometer o tecido de revestimento do estômago e duodeno, ocasionando um quadro de inflamação crônica. Esse processo está associado a uma série de problemas digestivos como gastrite e úlceras, que podem causar desconforto, dor epigástrica, azia, falta de apetite, náuseas e vômitos. No entanto, ainda não está claro por que algumas pessoas infectadas desenvolvem essas doenças, e outras não. 1–3
Diagnóstico e tratamento
Atualmente, há três principais formas de diagnóstico da infecção por H. pylori, incluindo exames de sangue e fezes (em busca de anticorpos e antígenos, respectivamente), teste respiratório com ureia e endoscopia com biópsia.
Em geral, as infecções assintomáticas não necessitam de tratamento. Para pacientes sintomáticos o esquema terapêutico deve ser mantido durante 14 dias, e é utilizada terapia tripla, ou terapia quádrupla. A terapia tripla envolve o uso de dois antibióticos e um inibidor da bomba de prótons (IBP), como o omeprazol. Já a terapia quádrupla combina um IBP, com dois antibióticos, e o subsalicilato de bismuto, que atua como protetor da mucosa gástrica, e possui atividade antibacteriana. A terapia quádrupla é aplicada em caso de resistência bacteriana conhecida ou falha na primeira tentativa de tratamento. 2,4,5
Uma vez que os antibióticos utilizados como terapia na infecção por H. pylori atuam de forma inespecífica, os microrganismos benéficos do trato gastrointestinal também podem ser eliminados. Nesse sentido, apesar de o tratamento com esses medicamentos ser essencial para a erradicação do patógeno, o uso de antibióticos pode trazer alguns efeitos negativos significativos para o organismo, como desenvolvimento de resistência bacteriana e alteração da microbiota do trato gastrointestinal (TGI). Esse último processo, também conhecido como disbiose, pode afetar não somente a regulação imunológica do hospedeiro, como também provocar sintomas como diarreia, dores abdominais, náuseas e vômitos. 6
Apesar dos antibióticos serem essenciais para a erradicação da H. pylori, o uso desses medicamentos pode trazer efeitos negativos significativos para o organismo. Imagem adaptada de Freepik.com, 2025.
O que são probióticos e por que considerar seu uso?
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), probióticos são microrganismos vivos que, quando consumidos em quantidades adequadas, promovem benefícios à saúde do hospedeiro. 7
Sabemos que a infecção por H. pylori contribui para o desequilíbrio da microbiota do TGI. Embora os mecanismos exatos desse processo ainda não sejam totalmente compreendidos, estudos sugerem que fatores como a competição com outros microrganismos no ambiente estomacal e a modulação de processos biológicos, incluindo a resposta imune, a sinalização celular e a regulação da acidez gástrica, desempenham um papel fundamental na disbiose.
Em particular, a infecção por H. pylori pode interferir na produção e no metabolismo dos ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), que desempenham um papel essencial na homeostase intestinal e na regulação da resposta imune. Normalmente, os AGCC como acetato, propionato e butirato exercem efeitos benéficos na modulação da inflamação, promovendo a integridade da barreira epitelial e estimulando a diferenciação de células T regulatórias (Tregs), que auxiliam a equilibrar a resposta imunológica. Contudo, a disbiose induzida por H. pylori reduz a produção desses metabólitos pela microbiota local, o que pode resultar em um aumento da inflamação gástrica. Essa alteração favorece uma resposta imune exacerbada, caracterizada pela ativação de células T do tipo Th17, e liberação de mediadores pró-inflamatórios, como fator de necrose tumoral-α (TNF-α), interferon-γ (IFN-γ), interleucinas (IL-1β, IL-6, IL-8 e IL-4) e pela indução da enzima óxido nítrico sintase induzível (iNOS), que contribui para o estresse oxidativo e o dano tecidual. Além disso, a H. pylori interfere em vias de sinalização celular, como mTOR/STAT3 e NF-κB, favorecendo sua própria sobrevivência no ambiente gástrico e alterando a resposta inflamatória do hospedeiro.
Nesse sentido, o uso de probióticos surge como uma estratégia promissora para restaurar a microbiota saudável, tanto na infecção por H. pylori, quanto na disbiose provocada durante e após os tratamentos com antibióticos. Dessa forma, a administração de probióticos vem sendo amplamente avaliada em ensaios clínicos para auxiliar na erradicação da H. pylori e minimizar os efeitos adversos dos tratamentos. 8,9
Uso de probióticos na infecção por H. pylori
Pesquisas in vitro, in vivo e ensaios clínicos recentes demonstraram a capacidade dos probióticos em reduzir os efeitos adversos causados pelas terapias tradicionais, sugerindo que esses microrganismos auxiliam a restaurar a microbiota do TGI através de competição direta com o patógeno, além de fortalecer a barreira gastrointestinal contra outros agentes infecciosos. Ainda, alguns resultados sugerem também que os probióticos podem auxiliar na erradicação da H. pylori. 10
Os probióticos podem auxiliar no tratamento da H. pylori principalmente a partir de três mecanismos. Imagem adaptada de Freepik.com, 2025.
Um estudo clínico prospectivo, randomizado e controlado por placebo, envolvendo 664 pacientes, demonstrou que a adição de um conjunto de probióticos – Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus plantarum, Bifidobacterium animalis subsp. lactis, Saccharomyces boulardii – ao esquema quádruplo sem bismuto reduziu os efeitos adversos do tratamento, como dor epigástrica, náuseas, vômitos, flatulência, falta de apetite e diarreia. Além disso, aumentou a taxa de erradicação da H. pylori, elevando os índices de sucesso terapêutico. 11
Outra pesquisa, conduzida com 89 indivíduos, demonstrou que o uso de Lactobacillus reuteri em associação à terapia tripla reduziu sintomas gastrointestinais frequentemente observados com os tratamentos convencionais, como indigestão, dor abdominal e constipação. Além disso, reduziu a ocorrência de outros efeitos adversos, como cefaleia, e melhorou a eficácia de tratamento contra H. pylori. 12
Ainda, um estudo demonstrou a eficácia do Lactobacillus gasseri na redução dos sintomas dispépticos causados pela infecção por H. pylori. O uso desse probiótico melhorou a sensação de estômago pesado após as refeições e o inchaço abdominal, contribuindo para um maior bem-estar gastrointestinal dos pacientes. 14
Semelhantemente, um ensaio clínico randomizado e controlado por placebo avaliou os efeitos do Lactobacillus rhamnosus LRa05 em conjunto com terapia quádrupla em 72 pacientes. Os resultados indicaram que a suplementação aliviou os efeitos adversos comumente provocados pela terapia quádrupla, como dor abdominal, refluxo, inchaço e diarreia, além de restaurar a microbiota intestinal e reduzir os níveis de marcadores inflamatórios, como IL-6 e TNF-α. Ainda, LRa05 promoveu a regulação da contagem de neutrófilos no sangue, e dos níveis das enzimas hepáticas ALT e AST, o que reforça o papel desse probiótico na regulação da inflamação, e sugere um potencial na melhora da função do fígado. 13
Esses resultados sugerem que os probióticos podem ser uma boa estratégia valiosa para ser utilizada em conjunto com os tratamentos convencionais. De acordo com a versão mais recente do Relatório de Consenso Maastricht VI/Florence – um documento elaborado por especialistas internacionais que oferece diretrizes atualizadas para o diagnóstico, tratamento e manejo da infecção por H. pylori – os probióticos são considerados como adjuvantes eficazes, especialmente por seu papel na redução dos efeitos adversos comuns às terapias atualmente empregadas. 3
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